domingo, 20 de setembro de 2015

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sempre te procuro nas tardes de domingo. sempre estás nestas ausências. nestas horas intermináveis. no silêncio perturbador do quarto. sempre estás em todos os rostos. e nenhum, nenhum corpo.
Viviana H.
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por que denominamos o passado de abismo? o passado, aquele tempo em que meu olhar te cruzou. o passado, aquele tempo em que descobriste o agudo perdido em minha risada. o passado, que compôs o tempo em que fizeste do meu corpo um mapa que tens sempre em mão.
amo-o: o passado. tu estás nele se me roubarem o futuro.
Viviana H.
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penso no depois. não há depois. não há nada. qualquer dia do calendário é "nonsense". os amanhãs me servem como cova em que deposito, calo e esqueço meus próprios amanhãs. os sonhos servem para separar as noites. as promessas para se perderem. o sexo tornou-se fuga, distração, um desequilíbrio que uso na repetição para alguma lucidez. penso no depois. depois de esquecer de nós. depois de me despedir de mim. atiro-me ao abismo do passado.
Henrique J.
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acordo. o peso do mundo hoje tem o peso do teu corpo sobre mim. os lençóis são nossos territórios. estou amanhecida dentro do centro do teu desejo. essa manhã tem o indecifrável. meu corpo nu. tua boca faminta. dispensa a dor do pensar o depois.
Viviana H.
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serve-nos o amor para que soframos com outros ares; talvez mais elegantes, talvez mais enobrecidos. mas com certeza, sofredores. serve-nos o amor para nos intensificar ao mesmo tempo que nos dilui. perfuma-nos e mata. os abismos, sempre fatais, serão apenas mais majestosos. jeito majestoso de irmos para os infernos.
se soubesse que tu me trarias a morte em vida, teria desejado conhecer apenas o sexo.
para que serve o amor senão para nos fazer sofrer?
Henrique J.
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temos a cumplicidade de quem não se conhece, trepamos como se fosse mais outra, a última, a melhor de todas. era a primeira, na verdade. o desejo antecipou a química. o tesão apressou o amor. o amor acabou com a sensatez. encontramo-nos apenas dentro do outro. nos apresentamos nos movimentos. os silêncios eram a prosa. os gemidos, o descanso. o orgasmo, uma cumplicidade. ninguém se permitiu ir antes. entraram pela mesma porta ao mesmo tempo no paraíso.
chamaram o que veio depois, de relação.
Henrique J.
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permita-me dizer a ti aquilo que faço pelo prazer do amor que faço com as palavras.
lambe-me os desejos quando reage teu corpo às minhas mãos. e tuas coxas feitas para os meus lábios é o início do que me pulsa.
Ver-te e ser visto, farejar-te, olhar-te de longe ante o devorar me é o prazer sobre o prazer.

amo esta poesia estendida aos lençóis.
é apenas dela que preciso para qualquer verso.

Henrique J.
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tesão é te ver sair para voltar depois. tesão é o silêncio cúmplice do café da manhã. tesão é o convite para o sofá depois do sexo. tesão é o teu cheiro nos lençóis pelo domingo. tesão é pedir desculpas depois da discussão. tesão é planejar as férias contigo. tesão é tirar tua atenção com a boca enquanto estudas. tesão é o olhar, a entrega, o aconchego, a sedução.
tesão é a intensidade do amor na prática.
não queres, meu amor, sentir tesão para sempre?

Henrique J.
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há o calor das tuas mãos preenchendo o espaço entre meus seios. há a textura da minha pele e o cheiro que exala dos teus poros. há o arrepio e o sussurro. há a ausência de palavras e o excesso dos gemidos. há proximidade do amor? sei que há a mordida que prova o pecado. há os fragmentos. há as nomeações desnecessárias. não darei nome ao desejo.
Viviana H.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

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quando estiver pronto para viver sem ti podes deixar-me. enquanto isso, permita-me fechar as cortinas para te ver melhor, amar melhor. amar é ver, se não sabes. tenho medo que o teu amor feche a porta e deixe-me apenas com as palavras. que sentido pode ter a vida senão o da possibilidade de lhe falar bobagens e calar para dar a vez ao prazer? penso que o medo seja o meu frescor, o chamamento para tua presença, para que tome cada detalhe teu e cada suspiro e cada sentença como a única. é o medo quem me põe no instante em que somos. sem ele, o que me sobrará amanhã?

Henrique J.